Bate-Papo NFL com os Craques da ESPN

Paulo Antunes (PA), Antony Curti (AC) e Paulo Mancha (PM)
Neste último final de semana, o NFL de Bolsa teve o prazer de participar de um Bate-Papo com os comentaristas da ESPN: Antony Curti, Paulo Mancha e Paulo Antunes. O evento ocorreu no Shopping JK Iguatemi (SP) e teve a presença inclusive de crianças, mostrando, assim, que o esporte vem crescendo a cada dia em um público cada vez mais diversificado.
Os participantes conversaram com os comentaristas sobre os vários assuntos que envolvem o mundo da bola oval: os palpites da temporada, os jogadores que estão se destacando, patrocínio e investimento no esporte, draft e o crescimento da liga no Brasil: será que teremos um “djogo” por aqui???
Para quem quiser saber um pouco mais sobre o que pensam nossos comentaristas/torcedores dos Bears (Antony Curti), dos Jets (Paulo Mancha) e dos Dolphins (Paulo Antunes), o NFL de Bolsa disponibilizou alguns trechos desse Bate Papo:
O que é mais legal, para vocês, no futebol americano?
Paulo Antunes: Para mim, sem dúvida é o Miami Dolphins (risos), porque eu me apaixonei pelos Dolphins, Dan Marino (risos). Não, eu acho assim: a tática, o jogo de xadrez, todo mundo fala que é um esporte muito violento, que é muito bruto, mas quando você não entende muito do esporte realmente parece ser um negócio meio sem graça. Eu lembro que o primeiro jogo que eu vi foi o SuperBowl XX, em 1986, onde o Chicago Bears venceu o New England por 46×10. Eu não entendia absolutamente nada, não gostei, mas, morando nos EUA, eu comecei a aprender mais sobre o jogo e no ano seguinte eu já era fanático. Então, eu acho que a tática, o atleticismo, passes longos, corridas dinâmicas, eu acho um jogo extremamente dinâmico. Então, é isso que eu mais gosto do futebol americano.
Paulo Mancha: Bom, o Paulo já falou muita coisa, mas eu gosto muito de fazer uma comparação com o futebol da bola redonda, o soccer. O soccer é o esporte mais popular do mundo por causa de uma grande qualidade que ele tem: a simplicidade. É um esporte muito simples. Se você pegar uma tribo isolada do Amazonas e botar para ver um jogo de futebol soccer, em meia hora, o cara tá entendendo o que está acontecendo. O futebol americano, é exatamente o oposto disso e é legal por causa disso. Ele é um esporte extremamente complexo, difícil de entender; se você fizer o paralelo oposto: pegar um cara do Instituto de Física da USP, que tem mestrado em Harvard, e botar para ver uma partida de futebol americano sem ele nunca ter visto antes, ele vai assistir o jogo inteiro e ele não vai entender nada da primeira vez, porque é um jogo extremamente complexo e isso também é legal, porque fica lúdico. Você vai assistindo o esporte aos poucos e vai começando a entender, aí você começa a tentar adivinhar cada jogada que o técnico vai fazer, o que os jogadores irão fazer. Então, é um esporte muito lúdico porque ele é complexo. E um segundo fator que eu sempre falo, que está contido muito no meu livro: é a história do futebol americano. Eu não conheço nenhum esporte no mundo que tem uma história tão rica quanto a do futebol americano. O futebol americano teve influência direta de presidentes do país. O Presidente Theodore Roosevelt mudou a regra, a segunda guerra mundial mudou a regra do futebol americano, então, eu não conheço nenhum outro esporte que tenha tanta inter-relação com a história de um país e com a própria história do mundo quanto o futebol americano.
Antony Curti: Eu conheci o futebol americano por acaso, quando eu tinha 10 anos, e era uma luta ficar acordado até tarde, com a minha mãe enchendo meu saco para eu ir dormir, porque o jogo, começando às 23h30, era muito tarde. E, foi por acaso porque foi numa brincadeira de pique bandeira na escola: eu puxei a fita do meu coleguinha e ele falou “Agora é futebol americano, você tem que me derrubar no chão” e eu falei: “Sério?”. Aí, obviamente, a gente começou a se tacar no chão, porque criança adora isso, e aí, aquilo me deu um clique: “Putz, é que nem pique bandeira, é território!”. E, para não repetir o que os dois Paulos já falaram, que são dois aspectos que me cativam muito, eu acho que o aspecto territorial do futebol americano, que também está presente no futebol, me cativa muito. Eu acho que é algo inerente ao ser humano. Não é por acaso que o futebol americano, o futebol e o rúgbi são três dos esportes mais populares do mundo. Porque a gente quer ter o nosso cantinho, a gente quer ter o nosso quarto, e o futebol americano fala muito disso: de território, de jarda após jarda, desses risquinhos. Então, eu acho que a territorialidade do futebol americano foi algo que me cativou desde pequeno.
NFL de Bolsa: Eu queria ouvir de vocês uma questão um pouco mais administrativa do futebol americano. Lá a gente tem um campeonato que dura um pouco mais de 6 meses e é um sucesso. Como funciona essa questão dos patrocínios? Do investimento no esporte e como isso poderia ser implementado aqui no país, comparado com o nosso esporte nacional, o futebol, por exemplo. Como é que vocês veem essa parte da gestão do futebol americano?
Paulo Antunes: No futebol americano, nos EUA, a beleza do futebol americano é assim: são 32 times. Tem um acordo coletivo de trabalho, então, todo o dinheiro que entra, pela televisão: CBS, FOX, ESPN, a ESPN tem um contrato bilionário com a NFL, os times dividem. Então, o New York Giants, do principal mercado, não tem qualquer vantagem em cima do Green Bay Packers, que detém um mercado de 100 mil torcedores, e o Green Bay é o time mais vencedor. Então, a NFL consegue cuidar de todos os seus times. Tem um Salary Cap, que é uma folha de pagamento, e os times são forçados a gastar pelo menos 90% desse Salary Cap, então, você não pode pegar um time e falar assim: “Eu quero economizar salário, só quero gastar US$ 30 milhões”. Você tem que pagar os jogadores. E também não adianta o cara ser trilhardário, que ele não vai poder gastar mais do que o teto do salário permitido. Isso faz com que todos os times fiquem nivelados. Eu acho que aqui, no Brasil, você não tem um dono, um general manager, não tem uma estrutura, para onde que realmente vai o dinheiro? A gente fica na dúvida.
Paulo Mancha: Já começa que tem uma diferença que é impossível de trazer para cá: a formação do jogador. Nos EUA, o cara tem que ir para a universidade para virar jogador. Aqui é o contrário! O cara saí da escola com 14, 15 anos para jogar; então, já começa tudo errado, porque você tem o empresário, o predador, pegando o molequinho de 14 anos, tirando da escola, então, isso gera um vício que a gente vai demorar, sei lá, 40, 50 anos para consertar aqui no Brasil. Tem muita coisa que a gente pode aproveitar de lá mas é difícil trazer para a nossa cultura… Até o modo como eles encaram os esportes por lá, o Bert Bell, que foi um comissário da NFL, falava uma frase assim, ele era o fundador do Philadelphia Eagles: “Os nossos jogadores tem que se odiar dentro de campo, e fora de campo a gente tem que se amar”. Ele tinha a consciência que não adiantava nada que o Pittsburgh Steelers fosse a falência. Era pior para ele! Ele queria que os Steelers fosse um time forte, o Cleveland Browns e todos os outros. E isso é uma coisa que falta no Brasil, o cara de um time quer que o outro time vá a falência, quer que morra…
Antony Curti: Tem uma outra frase do Bert Bell que é: “A nossa liga é tão forte quanto o nosso time mais fraco”. Ele é o cara que pensou no Draft, porque ele sofria muito para conseguir talentos. Naquela época, o Chicago Bears era muito bom e pegava todos os jogadores, então, ele sofria muito para conseguir talentos e contratos com os jogadores universitários. Aí, o Draft foi criado, na década de 30, para suprir essa necessidade e eu acho que um motivo principal para o esporte ser tão bem sucedido, do ponto de vista financeiro, com tanta qualidade, é que os times são uma empresa, eles tem que dar lucro. Aqui no Brasil, juridicamente falando, os times são uma associação, então, se não tiver lucro, dane-se. Muito difícil derrubar o sistema que a gente tem aqui, de associação civil, um negócio que não precisa dar lucro, que não precisa pagar imposto, e transformar isso em uma empresa, como é nos EUA. E aproveitando isso que o Paulo falou a gente olha e pensa: “Putz, foram os Packers que foram lá chorar para dividir o dinheiro igual”. Mas não…. Foram os Giants e Bears, os dois maiores mercados consumidores da época que falaram: vamos dividir o dinheiro igual porque daí a liga inteira vai ficar mais forte, o produto vai ficar melhor, e todo mundo vai se dar bem. E foi isso que aconteceu.
Paulo Mancha: Eles dividem merchandising também. O merchandising, nos EUA, é uma coisa muito séria, você não tem pirata lá fazendo chaveirinho, boné. O cara vai em cana lá, os caras fiscalizam no mundo inteiro, haja vista que alguns anos atrás muita gente comparava da China aqui e parou tudo em Curitiba.
Paulo Antunes: Eu falei do teto salarial. A folha de pagamento é definida de acordo com o lucro da liga, o que é bem legal. A liga, a cada ano que passa, ganha 1 bilhão de dólares a mais. Nos últimos 5 anos, foi de US$9 para US$14 bilhões – uma coisa realmente impressionante. Então, os jogadores têm em torno de 49%, 50% do lucro, então, a folha vai subindo e os jogadores vão ficando cada vez mais ricos.
Paulo Mancha: Durante a crise econômica mundial de 2008, a única liga esportiva dos EUA que não teve prejuízo foi a NFL, então, quando teve aquela ameaça de greve, em 2011, o Obama deu um pito na NFL: “Nós estamos todos aqui neste país discutindo como vamos dividir o prejuízo, enquanto vocês estão brigando para dividir o lucro? Então voltem logo aí, acertem-se e voltem a jogar.”
Paulo Antunes: Vai até 2020 esse acordo. Daqui há pouquinho a gente vai ter uma greve porque os jogadores, parte dos salários, e é só na NFL que é assim, os jogadores assinam um contrato de US$ 100 milhões de dólares, com US$ 40 milhões garantido. Então, a parte garantida ele vai ganhar, mas depois que ele ganhar essa parte garantida o time pode sair do contrato. Isso não acontece no beisebol, não acontece na NBA, então, isso é algo que a NFL pode mudar nos próximos anos, então pode ser que a gente tenha uma greve depois que esse acordo coletivo expirar.
O quanto a constante mudança de regras na NFL tem contribuído com o esporte?
Paulo Antunes: Eu acho que o sistema de replay hoje é muito eficiente, muito bom, porque você consegue eliminar o erro da arbitragem; menos em faltas, porque a gente vê muitas faltas mal marcadas, infelizmente, não pode fazer a revisão ainda. Mas, antigamente, o QB, ele levava cada porrada no capacete e o juiz ia lá e falava: “Deixa eu te dar uma mão”. O Dan Marino, na última temporada, o Joe Montana, todo mundo quebrado, o Steve Young, muitas concussões, o Troy Aikman, teve que se aposentar por causa do alto número de concussões. Então, realmente é outra época. Hoje, o QB é mais protegido, você não pode também pegar tanto no Wide Receiver, porque hoje em dia, você encosta no recebedor e é falta. A NFL quer pontos. A NFL quer Touchdowns. Antigamente, a defesa fazia a festa contra os recebedores, contra os QB. Eu prefiro o jogo de antigamente para te falar a verdade, eu acho que, hoje em dia, às vezes, dá a impressão que o QB não é jogador de futebol americano, dá a impressão que ele está com uma jérsei vermelha, eles usam uma jérsei vermelha nos treinos, eles usam porque ninguém pode encostar. Dá uma impressão que é assim no jogo também. Isso me incomoda um pouquinho. Isso é um negócio que eu não gosto. Mas, o resultado é que a gente vê mais pontos, ataque para lá de prolíferos, QB lançando para 55 Touchdowns, recordes. Não para ser clubista, nem nada, mas eu lembro que o Dan Marino, em 84, ele teve 48 Touchdowns e o segundo lugar foi tipo 22 e mais do que 5000 jardas. Então, se falava assim: o Dan Marino vai se aposentar com todos os recordes, eles nunca vão ser quebrados…. Tão quebrando todos os recordes dele agora. Então, realmente é outra era. Para quem gosta de ponto, para quem gosta de passe, está excelente.
Antony Curti: Eu acho que a NFL quer pontos porque o fã casual quer pontos. A gente está nesse ano com 10% de pontos a menos do que nas duas primeiras semanas do ano passado. E, de 2010 à 2017, todos os anos foi quebrada a média de pontos por partida. Nos anos 70: 19 pontos por partida, nos anos 80: 20 pontos por partida, década passada: 22 por time. Então, foi aumentando, aumentando, aumentando…. No final da década de 70, eles colocam a interferência de passe para abrir os ataques, no início da década de 70, eles colocam o Goal Post no fundo para abrir os ataques na Red Zone, nas 20 jardas finais. Agora, você não pode dar capacetada no adversário até por causa das concussões. A NFL vai sempre querer melhorar o jogo em termos de pontos. Eu não me surpreenderia se no Intencional Ground, por exemplo, diminuíssem a quantidade de jardas de punição ou eles o extinguissem. Eu sei que me parece completamente louco mas com a queda de produção das linhas ofensivas, isso pode acontecer. Porque a NFL ela intervém: Holding, na década de 70, era 15 jardas, aí, depois, virou 10. Eu acho isso positivo. Eu tô junto com o Paulo nessa, eu prefiro um jogo mais defensivo, eu prefiro um jogo mais pegado, mas o fã mais casual, prefere pontos, pontos, pontos. Então, eu não duvido que a NFL faça uma intervenção nos próximos 5 anos em relação a isso.
Teremos um jogo da NFL aqui no Brasil?
Paulo Antunes: Eu acho que é uma questão de tempo mas a NFL ela faz um estudo muito, muito aprofundado. A NFL não vai entrar em qualquer fria. Então, para vir até o Brasil, eu acho que a situação política tem peso, o fato de não ter certeza se o estádio vai encher ou não…. A NFL quer dinheiro, então, ela vai para as paraças que tem dinheiro. Ela sabe que o México já teve jogos com mais de 100 mil torcedores, e isso daí foi em 2005; então, em Londres, a libra ajuda…. o pessoal adora futebol americano lá porque teve a NFL Europe, que fez sucesso durante alguns anos lá.
Paulo Mancha: Tem muito americano na Europa.
Antony Curti: A Europa Continental está ali do lado. A gente vê muitas bases americanas depois da segunda guerra. Na Alemanha, o futebol americano é muito popular. É o que o Paulo falou: a situação política, econômica, é zika vírus, chicungunha, a NFL fica meio receosa. Houve até uma conversa forte de fazer o ProBowl aqui mas com todo esse contexto sócio-econômico eu acho que fica mais delicado.
Paulo Antunes: O bom é que agora a gente tem estádio. Porque não tinha como fazer no Morumby, no Pacaembu do jeito que tava, então, hoje, pleo menos a gente tem o Maracanã, tem vários outros estádios que, com a Copa do Mundo, contribuíram. Porque a NFL vai querer uma arena de 60, 65 mil, porque é basicamente a média de público na NFL. Só para vocês terem uma idéia: teve um jogo que no fim de semana entre os Rams e os Redskins: foram 56 mil torcedores e para a NFL isso aí foi horrível, no segundo maior mercado que é Los Angeles, isso é um problema. A NFL quer todos os ingressos vendidos em todas as arenas.

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