LESÕES EM PAUTA: ENTENDA A LESÃO DE JJ WATT E SEU POSSÍVEL RETORNO PARA OS PLAYOFFS

Por Nágela Freitas. Fisioterapeuta – Especialista em Ortopedia e Traumatologia (UNIFESP)

Na semana 8 tivemos mais uma lesão que deixou todo amante da bola oval bem entristecido.

O Houston Texans saiu com uma vitória contra o Oakland Raiders por 27-24, porém perdeu um dos seus principais astros por toda a temporada. Mais uma vez não teremos J.J. Watt por uma temporada completa.

Bom, era esse o prognóstico, certo? Errado! De acordo com Ian Rapoport, fontes dizem que os Texans estão guardando a sua última vaga de retorno da injured reserve para Watt, e que há um grande otimismo de todos os lados de que o defensive end possa retornar para os playoffs.

Isso mesmo, JJ Watt poderá voltar a jogar apenas 3 meses depois de ter rompido o músculo de seu peitoral.

O jogador com 30 anos, já tem um histórico grande de lesões em sua carreira iniciada em 2011. Essa lesão no peitoral aconteceu após um tackle, e Watt não retornou ao jogo. Posteriormente, foi confirmada a ruptura do músculo peitoral, além de ter “rompido” também o coração do torcedor, com a mensagem em seu Twitter:

“Este esporte pode ser lindo, mas também pode ser brutal. Estou muito desapontado porque não vou conseguir terminar a temporada com meu time. Amo este esporte e não suporto decepcionar vocês. Obrigado pelos pensamentos positivos”, escreveu JJ.

 

HISTÓRICO DE LESÕES

Antes de falarmos da lesão atual, vamos dar um geral nas lesões que vem assombrando o jogador nos últimos anos:

No período de quatro anos, Watt sofreu três lesões sérias que interromperam sua temporada. Em 2016, fez uma cirurgia para corrigir uma hérnia de disco, começou a temporada e ainda jogou três jogos antes de precisar de outro procedimento no mesmo local. Watt provavelmente acabou forçando o seu retorno antes de ter uma total recuperação.

No ano seguinte, em 2017 sofreu uma fratura de platô tibial (osso da perna) que o tirou de 11 jogos. Apesar de ter atuado em todas as 16 partidas em 2018 com bons números e se reafirmando como líder defensivo, só esteve em campo oito vezes entre 2016 e 2017.

 

A LESÃO

Agora, falando da lesão atual: RUPTURA DO MÚSCULO PEITORAL.

Nessa temporada acabamos ouvindo com mais frequência sobre jogadores que sofreram com a mesma condição além de JJ, como o linebacker do San Francisco 49ers, Kwon Alexander e o defensive line do Pittsburgh Steelers, Stephon Tuitt.

Vamos entender da forma mais didática possível um pouco sobre esse tipo de lesão.

 

Anatomia

O músculo peitoral maior possui um formato triangular e é responsável pelo movimento de adução (fechamento), rotação medial (para dentro) e flexão horizontal (abertura e elevação). Resumindo, possui diversas funções justamente por ser um músculo grande e forte.

Incidência e mecanismo de lesão

Trata-se de uma lesão pouco frequente, com maior incidência em homens jovens entre 20-40 anos e na maioria das vezes (cerca de 85% dos casos) ocorre em praticantes de musculação.  Supino é o exercício onde ela acontece frequentemente, neste caso trata-se de uma lesão indireta. Já no caso de esportes de contato como rúgbi e futebol americano, o mecanismo de lesão é direto, pela força de impacto comuns nas jogadas, afetando principalmente as fibras musculares.

No caso do JJ Watt, ele saiu para segurar o running back do Oakland Raiders, Josh Jacobs, abrindo os braços para derrubá-lo no chão e no mesmo momento já sentiu incômodo na região, saiu de campo e não retornou mais.

 

Diagnóstico e classificação da lesão

Inicialmente o próprio exame físico auxilia, pois na maioria das vezes é visível uma alteração no formato do músculo. Entretanto o exame de imagem mais fidedigno é a ressonância magnética, que é bem comum para basicamente toda lesão muscular ou tendínea.

Quanto à classificação ela pode ser dividida pelo tempo (tempo que ocorreu a lesão): agudas, que é o caso do JJ ou crônicas que é aquelas com tempo maior que 3 semanas. Ainda pode ser dividida pela localização: ventre muscular (1), transição miotendínea (2) ou a inserção do tendão (3).

Também pode ser classificada pelo grau de acometimento: parciais ou completas, que são auto explicativas.

 

 

Tratamento

O tratamento pode ser cirúrgico ou conservador (não cirúrgico). Resumidamente, as lesões parciais são de tratamento conservador, que no caso é repouso com tipoia, reabilitação e retorno gradual conforme evolução. Porém esse tratamento está associado a piores resultados em termos de recuperação de força, então para atletas é pouco indicado.

No caso de lesões completas é realizado procedimento cirúrgico. Nas lesões agudas, o tendão é reinserido no osso com auxílio de âncoras metálicas, parafusos ou endobutton.

 Curiosidade: Em algumas situações de atletas muito musculosos que apresentam ruptura, o reparo pode não ser possível e há necessidade da reconstrução do tendão usando um pedaço o tendão da perna (enxerto). Mas pelo que parece JJ Watt não teve necessidade – e olha que ele é enorme. 

Recuperação

A reabilitação pode ser iniciada com ganho de amplitude de movimento (ADM) próximo a seis semanas e fortalecimento muscular iniciado com 12 semanas e retorno ao esporte entre 4-6 meses.

Muito tem se falado na imprensa se essa lesão pode levar o atleta a uma possível aposentadoria precoce, mas pelo jeito esse não será o caso de Watt.

O defensive end postou uma foto em seu instagram, no dia 29/10, após cirurgia, e teoricamente, ele teria pelo menos 10 meses de pela frente, tempo suficiente para a recuperação completa.

Porém, conforme mencionado no início da matéria, é bem capaz que vejamos JJ de volta aos gramados para os playoffs (Janeiro), ou até antes, já que o Houston Texans por enquanto lidera a divisão Sul da AFC, e muito provavelmente passarão para a próxima fase da competição

Mas até que ponto vale a pena colocar em risco a recuperação completa de um atleta e claro aumentar o risco de uma re-lesão?

Watt retornaria com menos de 3 meses, já que playoffs acontecem no começo de janeiro. Apesar de estar apresentando uma excelente recuperação, e se retornar, possivelmente ficará mais “limitado”, até mesmo por estar fora de ritmo de jogo. Fisiologicamente, uma recuperação normal levaria no mínimo 12 semanas, mas falando de atletas de alto nível, essa dinâmica muda um pouco.

Quando se trabalha com atletas, o que se pensa é “Qual seria o pior dos cenários com o retorno do jogador?” Bem, ele retornaria e poderia romper novamente e com isso faria uma nova cirurgia e teoricamente estaria a tempo para retornar na próxima temporada. Então se ele tiver mínimas condições de retorno, mesmo com alguns riscos, é muito provável que retorne aos campos.

JJ Watt é muito amado por quem admira a bola oval, então todos estamos na torcida por sua completa recuperação.

 

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