Sobre renascimento e esperança – Bourbon Street

Em 25 de setembro de 2006, New Orleans renasce após ser destruída pelo furacão Katrina em 2005. Com um bloqueio de punt contra seu maior rival no primeiro jogo no Superdome após a tragédia, em alguns segundos, os Saints criam um momento que ficou para a eternidade em uma cidade que ainda estava sendo reconstruída. 

O exato momento do renascimento (Michael DeMocker/AP Photo)

Eu não vim aqui contar uma história sobre como em 25 de setembro de 2006 eu estava assistindo o renascimento de New Orleans. Eu nem sabia que futebol americano existia em 2006, quando eu tinha 11 anos de idade. Futebol para mim era o esporte que jogamos com o pé e meu único time era o Grêmio Esportivo Brasil. Apenas em 2010 que eu conheci os Saints e me apaixonei.

Eu sabia da história do Katrina, eu lembro de acompanhar as notícias sobre a destruição da cidade. Eu lembro de me sentir tocada com a situação, mas só isso. Eu era uma criança, afinal de contas. Eu amava a música The Saints Are Coming, do Green Day com U2 e não fazia ideia de qual era sua história. Inconscientemente, anos depois, em 2010, foi esse sentimento que colaborou para que eu torcesse pelos Saints no Super Bowl XLIV num esporte que eu não sabia absolutamente nada. 

Eu não vim analisar o jogo em si, até por que eu nunca assisti ele. Não vou mentir, eu conheci o time e o esporte em 2010 e fui acompanhar de verdade apenas lá por 2014. Meu conhecimento histórico sobre os Saints e a liga não é tão bom quanto eu gostaria. Daquele time, de cabeça, eu sei de três nomes: Sean Payton, Drew Brees e Steve Gleason. E só. Eu sei, deve ter muita gente querendo tirar minha carteirinha de torcedora dos Saints. Paciência. 

Sei que os Saints haviam contratado tanto Sean Payton e Drew Brees para a temporada de 2006, sei que no ano anterior o time jogou em vários lugares enquanto o Superdome era reconstruído. Sei que Sean Payton, inicialmente, não queria ser o head coach do time da Louisiana, mas sim do Green Bay Packers. Também sei da história trágica de Steve Gleason, o maior personagem desse renascimento da cidade. O jogador, um safety – que era uma ótima arma nos special teams – se atirou aos pés do punter do Atlanta Falcons, Michael Koenen (nome que, sinceramente, precisei pesquisar), e hoje está preso em uma cadeira de rodas sem movimento algum em seu corpo. Gleason foi diagnosticado com Esclerose lateral amiotrófica (conhecida pela sigla ASL), aquela doença do Ice Bucket Challenge. Hoje, o ex-jogador é um símbolo de superação daqueles que convivem com doenças neurodegenerativas. De acordo com Gleason, hoje será a primeira vez que ele irá assistir novamente o jogo. Junto com outros jogadores da época, Gleason irá fazer um live tweet durante o jogo.

“Em quase todos os sentidos, Michel e eu vivemos várias vidas desde 25 de setembro de 2006. Voltar para aquele dia e aquele jogo é como voltar para um sonho. Ah, e eu escrevo com meus olhos, então fazer qualquer coisa ‘ao vivo’ requer muita preparação. Vai ser uma boa experiência de aprendizado, que eu acredito que normalmente é precedida de um pouco de nervosismo” Steve Gleason em entrevista para a ESPN.

São esses os fatos que eu sei. Mas, não estou aqui para falar disso. Quem quer saber mais sobre isso, eu aconselho assistir esse vídeo do SB Nation.

Superdome no dia 25 de setembro de 2006, a volta dos Saints a New Orleans (Chris Graythen/Getty Images)

Eu estou aqui para convidar todos a ver esse jogo hoje, às 20h na ESPN, para ver o renascimento de uma cidade, simbolizado em um time de futebol americano. Em tempos de quarentena e isolamento social graças a uma ameaça invisível como o Coronavírus, onde ninguém tem muita certeza do que pode acontecer na próxima semana e que todo o estresse tem um custo alto na nossa saúde mental, eu convido todos a assistir um jogo que significou o renascimento de uma cidade para que possamos ter esperança nesses dias sombrios de isolamento social. Sim, são situações diferentes. Mas a conclusão é a  mesma: esperança, é possível se reconstruir após situações adversas.

Mas além da mensagem inspiradora, eu estou aqui para convidar todo fã de esporte a assistir um jogo histórico – especialmente os torcedores do New Orleans Saints.

Ah, Falcons. Lembra de uma coisa: #neverpunt

Por Érica Barros

“Bourbon Street” é a nossa seção especial do New Orleans Saints nas Crônicas de Bolsa. Bourbon Street faz referência a uma rua histórica no coração do bairro Francês em New Orleans, famosa por seus bares.

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