Dak Prescott merece ser o quarterback mais bem pago da liga?

***Texto que expressa a opinião da colaboradora Emmanuele Alves, com base nas análises aqui apresentadas***

 

Não, ele não é melhor que Russell Wilson. Calma!

Dito isso, vamos à explicação: precisamos lembrar que toda questão envolvendo contratos na NFL vai muito além do jogador ser bom ou não. Claro que isso é um fator importante a ser considerado, mas é preciso levar em conta o salary cap do time, draft, posições necessárias de reforço e, principalmente, o mercado. Então passemos a analisar os argumentos para essa afirmação tão polêmica sobre este caso que está dando o que falar.

1. Oferta e Demanda

Vivemos em um mundo capitalista em que impera a lei da oferta e da demanda. Quanto maior a demanda e menor a oferta, maior será o valor do bem; quanto menor a demanda e maior a oferta, menor será o valor do bem.  Na NFL não é diferente. Arranjar um franchise quarterback para chamar de seu é algo difícil. Vários times ficam anos procurando por um, temos diversos exemplos disso na história da liga. O mais recente e emblemático sem dúvidas é o Miami Dolphins, desde a saída de Dan Marino a franquia ainda não conseguiu encontrar um jogador para substituí-lo, aí já se vão 20 anos de busca.

Diferente das outras posições, a oferta por quarterbacks bons é baixa e a demanda é alta, logo, o valor para se ter um é alto. Por exemplo, imagine que um jogador de linha ofensiva se machuque, é possível substituir sem que isso comprometa toda a temporada, ainda que este substituto não seja tão bom quanto o anterior. O mesmo vale para todas as outras posições. Vamos lembrar que durante uma partida todos os outros jogadores fazem rotação, menos o quarterback, ou seja, ele é o único que está em todos os snaps do ataque. Esse fato por si só já tornaria essa posição a mais importante. Sim, eu sei que é um jogo de equipe e não adianta ele ser bom se os outros jogadores do elenco forem ruins porque não se ganha jogo sozinho (com exceção de “Seattle Wilsonhawks”), mas o quarterback é jogador que lidera o ataque, sem ele nada flui e, como já disse, não é facilmente substituível, justamente pela baixa oferta do mercado para a posição. Feita esta introdução, vamos ao assunto principal. Quem poderia substituir Dak Prescott em Dallas caso ele não renove? Opções disponíveis: Andy Dalton, Cam Newton ou algum futuro prospecto que precisará ser lapidado. Vamos combinar que nenhuma dessas atende a necessidade dos Cowboys.

Achar quarterback no draft é uma roleta russa, pode vir um Patrick Mahomes ou um Mitchell Trubisky – não há certezas, apenas especulações e esperança, duas coisas que Dallas não se pode dar ao luxo no momento. As mudanças que ocorreram este ano foram pensadas para a equipe ser competitiva agora e não apenas daqui a quatro ou cinco anos.

Em relação aos dois veteranos, sabemos que nenhum deles será o futuro da franquia. Eu sei que eu disse que Dallas se preparou para ganhar agora e, acredite, por mais que pareça contraditório falar em futuro neste momento, não é. Explicarei. Na NFL poucos contratos são pensados apenas no agora, a maioria é planejado para longo prazo. Por mais que Dallas esteja se preparando para ser competitivo já na próxima temporada, o time precisa se manter nesse mesmo nível pelos próximos anos também, então pensar no agora não significa negligenciar o futuro. Voltando a Dalton e Newton. Ambos são bons jogadores e podem conseguir liderar bem esse ataque fortíssimo dos Cowboys, mas já não rendem a mesma coisa e tendem a cair de produção pelos próximos anos. Para comprovar este ponto, vou pegar uma pesquisa feita pelo Football Perspective , na qual foi analisado a idade versus rendimento dos quarterbacks. A conclusão foi de que a partir dos 25 anos é quando começam a ter um melhor rendimento, atingindo o ponto máximo aos 29 anos e a partir dos 31 começam a ter uma queda. Com base nesses dados, podemos especular sobre Andy Dalton e Cam Newton, que estão com 32 e 31 anos, respectivamente, enquanto Prescott está com 26 anos.

Se levarmos em consideração essa estatística e o fato do draft não ser uma ciência exata, a probabilidade de maior sucesso com menos riscos para Dallas aponta para Dak Prescott.

 

2. Mercado de Quarterbacks

Nem sempre o melhor jogador da posição será o mais bem pago. Aliás, na NFL isso é raro de acontecer. O melhor pode até durar um período como o mais bem pago, mas logo outro toma o primeiro lugar. Isso acontece especialmente por causa da oferta e demanda, assim, quem renova por último acaba ditando os valores dos próximos. Basta observar a retrospectiva de renovações contratuais dos quarterbacks, é muito comum acontecer daquele que ganha um novo contrato se tornar o mais bem pago.

Em 2017, Derek Carr (LV) se tornou o jogador com o melhor salário contratual, renovando pelo valor de US$125 milhões por 5 anos (US$25M por ano). Ele era o melhor da liga na época? Não era. No mesmo ano, Matthew Stafford (DET) também renovou seu contrato, seu acordo foi de US$135 milhões por 5 anos (US$27M por ano), passando Carr como o mais bem pago. Ele era o melhor da liga? Também não era. Perceba que o valor do contrato de Carr influenciou no valor de Stafford, mesmo nenhum dos dois estando entre os melhores da época. Para ilustrar melhor, antes da renovação deles o mais bem pago era Joe Flacco (na época, BAL), ganhando US$24 milhões por ano, que hoje está como reserva no New York Jets.

Ganhar o maior salário, portanto, não significa que o jogador é o melhor da posição, na maioria das vezes significa apenas que foi o mais recente a ter o contrato renovado. Isso é o que está acontecendo com Prescott. Ele é o melhor quarterback da liga? Não, mas está no momento de receber um contrato novo. 

 

3. Classe de Quarterbacks do Draft de 2016

Você deve estar pensando: “Certo! Entendo a questão de mercado e entendo que ele é provavelmente a melhor opção para franquia, mas realmente merece ser o mais bem pago?”. Antes de responder essa pergunta, precisamos fazer algumas comparações para refletir melhor sobre isso, é inevitável.

Dak foi escolhido no Draft de 2016, assim como Jared Goff e Carson Wentz, ambos tendo renovado seus contratos no início do ano passado. Wentz foi o primeiro, assinando um contrato no valor de US$128 milhões por 4 anos (US$32M por ano). Em seguida, foi a vez de Jared Goff também assinar seu novo contrato, este no valor de US$134 milhões por 4 anos (US$33.5M por ano). Eles são os melhores quarterbacks da liga? Não são, mas ficaram entre os mais bem pagos, com Goff ganhando o mesmo salário que Aaron Rodgers, que, na época, era o maior salário da NFL. Goff é melhor que Rodgers ou tão bom quanto? Não é, mas dividiu com ele por um bom tempo o posto de maior salário. Onde quero chegar é: Dak merece ganhar mais do que seus companheiros de draft? Vamos analisar a carreira deles:

 

Antes de qualquer coisa, não quero aqui fazer uma análise de quem é melhor. Não é este o objetivo. O principal ponto é como essas estatísticas podem ajudar a analisar melhor sobre o contrato.

 Os três têm números bem próximos e as estatísticas no geral são bem parecidas. Sim, eu sei que estatísticas não devem ser analisadas isoladamente, também sei que alguns desses números desmascaram alguns pontos, mas eles podem sim comprovar que não há uma diferença abismal entre eles no quesito produtividade.

Cada um teve seus problemas ao longo desses quatro anos de liga. Prescott passou as últimas temporadas sob o comando de Jason Garrett, um dos piores head coaches de toda liga e ainda assim não teve nenhuma temporada com campanha negativa, enquanto Goff e Wentz tiveram ao lado head coaches top 15. Goff teve menos jogos que os outros dois, se adaptando a um novo sistema durante o seu segundo ano, jogando numa divisão com times fortes, enquanto Prescott e Wentz jogam em uma das divisões mais fáceis. Por fim, Wentz perdeu jogadores importantes do ataque na última temporada, sem contar que sofreu com lesões na sua carreira. Enfim, cada um teve que lidar com problemas, mas a diferença entre eles não é tão absurda assim em nível de rendimento dentro dos seus respectivos times. Por esses motivos, me parece justo que Dak receba um contrato com valor próximo ao dos seus companheiros de draft ou maior pelo fator de marcado, lembre-se que quem renova por último, ganha mais.

Por falar em lesões de Carson Wentz, isso nos leva ao próximo ponto.

 

4. Disponibilidade é um Fator Importante

Voltarei a utilizar o capitalismo como argumento. O dono de uma empresa paga ao seu empregado pelo seu trabalho, certo? Para isso o trabalhador precisa estar à disposição do patrão. Ora, um empresário não irá querer pagar um salário para o trabalhador ficar doente em casa. O mesmo vale para a NFL. Estar saudável e disponível para jogar, aumenta o valor do jogador.

Esse é um ponto que Dak Prescott tem a seu favor. Uma curiosidade interessante: são 64 partidas consecutivas como titular, esta é a maior marca de um quarterback do Dallas Cowboys. Em seguida vem Tony Romo com 47, depois Roger Staubach com 43 e 41 e em quinto lugar está Troy Aikman com 34 jogos.

Isso pode parecer besteira num primeiro momento, mas é algo extremamente importante confiar que o quarterback do seu time será capaz de jogar uma temporada completa. Com raras exceções, quando um jogador dessa posição se machuca e fica de fora de algumas partidas, toda a temporada pode estar comprometida. Nesses casos, é preciso ter um backup de segurança e isso custa caro, veja o Philadelphia Eagles gastando uma escolha de segunda rodada no draft de 2020 para escolher um quarterback, já que Carson Wentz ainda não conseguiu se manter totalmente saudável. Então pagar mais para o quarterback pelo fato dele não se machucar, no final é deixar de gastar mais dinheiro por “algo inútil”, é menos ocupação do salary cap, é mais uma escolha no draft, tudo isso para ser gasto em outras posições que terão mais impacto.

Depois desses pontos seu pensamento pode ter mudado: “Ok! Eu já entendi que é uma questão de mercado, que ele é a melhor opção disponível para os Cowboys, me convenci de que ele talvez não seja tão ruim assim quanto eu imaginava e que ele consegue se manter saudável e isso é bom. Mas precisa ser US$40 milhões?”. Agora entramos no último ponto.

 

5. Detalhes sobre a Negociação do Contrato de Dak Prescott

Algumas notícias chegaram confusas aos torcedores, parecendo que os Cowboys iriam pagar US$45 milhões num novo contrato. Nas últimas negociações, o Dallas Cowboys ofereceu à Dak Prescott um salário de US$175 milhões por 5 anos (US$35M por ano), acontece que Prescott gostaria de um contrato de 4 anos. Qual a importância da duração do contrato e em que isso influencia?

Bom, como disse , no geral, quem renova por último ganha mais, caso o time acredite no seu potencial dentro da franquia. Isso já ficou claro no texto. Sendo assim, futuramente os próximos quarterbacks a ganharem novos contratos terão salários maiores e junto com isso há também o aumento do salary cap da liga, o que tornará os atuais contratos totalmente defasados. Patrick Mahomes, Lamar Jackson, Deshaun Watson, Baker Mayfield, Kyler Murray e outros irão renovar seus contratos em breve, muito provavelmente renovarão por um valor bem acima do atual. Veja bem, em 2017 o maior salário estava em torno de US$24 milhões (Joe Flacco), praticamente 3 anos depois o maior salário está em US$35 milhões (Russell Wilson), são praticamente US$10 milhões de diferença. Se Prescott renova agora por um valor próximo aos US$37 milhões, por exemplo, em 5 anos é bem provável que o maior salário esteja acima dos US$50 milhões. Por isso ele quer um contrato com duração de 4 anos, para poder renegociar seu contrato e diminuir a defasagem que irá ocorrer.

Vale lembrar que Dak foi escolhido na 4ª rodada do draft e quanto mais baixa a escolha, mais barato o contrato de calouro, portanto, jogadores escolhidos na primeira rodada ganham mais. Isso quer dizer que o Dallas Cowboys teve nos últimos anos a qualidade de um jogador de primeira rodada, pagando o preço por um de quarta.

Em uma entrevista para o Friday’s #PFTPM Podcast, o vice presidente dos Cowboys Stephen Jones deu a seguinte declaração: “Dak é o nosso quarterback para o futuro. Obviamente, isso não tem sido a coisa mais fácil. Como Jerry [Jones] diz: ‘à medida que o dinheiro aumenta, os negócios ficam mais difíceis’. Certamente, estamos falando de uma quantidade significativa de dinheiro aqui, que ele tanto merece. Absolutamente não. Dak será nosso quarterback este ano. Ele é nosso quarterback para o futuro. Nós temos admiração por ele. Ele representa nossa franquia de uma maneira muito positiva em termos do que queremos como líder de nossa equipe. Ele simplesmente é um homem extraordinário, e nunca rescindiríamos a franchise tag.”.

Como vimos, as negociações em relação a renovação de um contrato vão muito além de desempenho em campo e de ser ou não melhor que outros. Existem vários fatores para serem analisados. Como minha amiga Dani comentou comigo certa vez: o contrato no fim não é apenas pela qualidade, mas sim pela projeção que existe sobre o jogador.

Prescott é um jogador que está em evolução, a tendência é que seu jogo melhore daqui para frente. Em 2019, de acordo com Next Gen Stats, ele foi o 4º melhor em porcentagem de passes completos (58,6%), 3º em jardas por tentativa (13.0), 3º com mais passes para touchdowns (18) e teve o 5º melhor rating (121.6), tudo isso mesmo tendo sido o quarterback que sofreu com mais drops pelos seus recebedores, foram 43, segundo o PFF, Tom Brady aparece em seguida com 34.

Com essas estatísticas que o deixam entre os melhores de 2019, aliado aos outros fatores explanados no texto, você acha que Dak Prescott merece ser o quarterback mais bem pago da liga? De qualquer forma, ele e o Dallas Cowboys têm até o dia 15 de julho para assinarem um contrato de longa duração, caso contrário Prescott jogará sob a franchise tag, que atualmente deixa o salário no valor de US$31.5 milhões. Aguardemos os próximos capítulos dessa novela.

Escrito por Emmanuele Alves

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