Foto: Darron Cummings/AP
Mais uma temporada da NFL chega ao fim, e de uma maneira épica!
Acredito que para os torcedores de ambos os times, essa foi uma partida para se perguntar se realmente aconteceu, se tudo aquilo não era um sonho ou um pesadelo, dependendo do lado que você estava.
Conforme dissemos na matéria anterior sobre o Super Bowl, o New England Patriots era o favorito e tinha boa parte das estatísticas históricas ao seu favor, porém, favoritismo em uma final de campeonato não significa muita coisa, e foi exatamente isso que o Atlanta Falcons mostrou nos 3 primeiros quartos da partida.
O time foi superior aos Patriots em todos os aspectos, pressionando muito bem Tom Brady (conforme era previsto que fariam), e ganhando nas marcações homem a homem contra o ataque de New England.
O 1º quarto da partida foi bem equilibrado, com as duas defesas trabalhando muito bem, não permitindo que nenhuma das duas equipes abrisse o placar. Já no 2º quarto, o melhor ataque da liga mostrou porque merece esse reconhecimento, e abriu 18 pontos de vantagem no placar. No 3º quarto, conseguiram aumentar essa vantagem para 25 pontos.
Uau, por essa ninguém esperava! New England Patriots, o favorito, que teve uma temporada muito consistente, talvez mais até do que a do Atlanta Falcons, pela primeira vez na história, perdia por uma diferença de 25 pontos!
O MVP da temporada, o quarterback Matt Ryan estava on fire, fazendo la
nçamentos precisos, fugindo incrivelmente de sacks e pressões da linha defensiva dos Patriots, que não conseguia ser muito efetiva em pará-lo. O QB terminou a partida com o maior rate já visto nessa temporada, 144.1, completando 17 dos 23 passes.
A esse ponto, acredito que 99% das pessoas que assistiam a partida, já consideravam que o Atlanta Falcons seria o campeão do Super Bowl LI, afinal, nunca nenhum time foi capaz de reverter um placar tão difícil. Muitos torcedores de New England já haviam aceitado a derrota, desejando apenas que o time fosse capaz de no mínimo, diminuir essa vantagem, e que não sofressem um massacre como estava se desenhando.
Digo 99% das pessoas, pois eu sou um dos torcedores que independente do que aconteça, acredito no meu time até o último segundo. Confesso que por diversos momentos, cheguei a duvidar que seria possível uma arrancada histórica, mas me agarrei aquele jogo da semana 12 da temporada de 2013, contra o Denver Broncos. Fomos para o 2º tempo perdendo por 24 a 0, mas conseguimos reverter o placar e ganhar a partida. Tudo bem que não dá para comparar um jogo de temporada regular com uma partida de Super Bowl, mas isso era tudo que eu tinha naquele momento para me ajudar a passar por aquele placar frustrante e humilhante.
Você sempre espera que o time que está perdendo, “arrume a casa” e volte melhor no 3º tempo, mas isso não aconteceu. Os Patriots conseguiram esboçar alguma reação apenas nos dois minutos finais do 3º quarto, quando conseguiram marcar um touchdown. Mas como desgraça pouca é bobagem, o kicker dos Patriots, Stephen Gostkowski errou o extra point, e garanto que uma boa parte dos torcedores de NE tiveram um Déjà vu com relação a final da AFC do ano passado contra os Broncos.
Mas no último quarto, foi quando a magia do futebol americano aconteceu, ou a maldição, caso você seja torcedor do Atlanta Falcons. Sempre falo que o futebol americano é uma caixinha de surpresas, onde tudo pode acontecer, mas depois desse jogo, os conceitos do que ‘tudo’ significa, foi atualizado com sucesso!
New England precisava fazer o impossível no último quarto. Perdendo por um placar de 28 a 12, faltando apenas 6 minutos para o final do jogo, o time precisava de no mínimo 2 touchdowns com conversão de dois pontos. Além disso, a defesa tinha que segurar o ataque mais potente de liga, e garantir que eles não marcassem mais nenhum ponto. Wow!
Porém, tudo que estava dando errado para New England até então, resolveu funcionar! A linha ofensiva conseguiu dar mais tempo a Tom Brady para efetuar os lançamentos, os recebedores começaram a aparecer com recepções cruciais e a defesa conseguia drive a drive, impedir o ataque dos Falcons de evoluir.
Foi então que o impossível descrito ali em cima, aconteceu! Os Patriots conseguiram empatar a partida, faltando 0:57 segundos para acabar o jogo. Vale a pena destacar aqui a recepção milagrosa feita por Julian Edelman nesse drive, que sem dúvidas, foi crucial para garantir o empate.
Daí meu amigo, com o jogo empatado faltando apenas 0:57 segundos, depois de toda essa montanha russa de emoções, não há coração que resista! Até para quem não torcia para os dois times, tenho certeza que ficou apreensivo e chocado com o que estávamos testemunhando. Eu já não sabia nem mais o meu nome naquele momento, e eu falo sério!
Porém, como disse, a sorte resolveu mudar de lado, e até no cara ou coroa os Patriots ganharam e escolheram atacar primeiro, obviamente, já que se garantissem um touchdown nesse drive, o jogo estaria ganho e os Falcons não teriam nem a chance de retornar a campo.
(Uma curiosidade: a ESPN Sports Science fez um estudo sobre a probabilidade de dar cara ou coroa quando a moeda é lançada, veja aqui. Os Patriots escolhem cara há 6 anos, será que Bill Belichick sabia desse estudo há tempos? Rs)
E foi exatamente isso que aconteceu! Em uma campanha de aproximadamente 4 minutos na prorrogação, os Patriots marcaram o touchdown e ficaram com o título!
Até agora, acredito que ninguém (incluindo eu), entendeu muito bem o que aconteceu. Como foi possível o jogo virar completamente dessa maneira no último quarto? Já assisti a reprise 5 vezes, e até agora tudo parece muito surreal. Alguns especialistas culpam os Falcons, dizendo que eles entregaram o jogo, e só perderam porque quiseram. Nem de longe vejo isso, afinal de contas, era possível perceber que o time dava seu máximo a cada jogada.
Podemos questionar algumas ações e decisões do time de Atlanta que poderiam ter sido feitas de maneira diferente:
A defesa do Falcons cometeu várias faltas cruciais que mantinham o ataque de New England vivo, e matavam suas próprias campanhas. Tudo bem, quando um atleta comete uma falta em momentos tão importantes, é revoltante, mas ao mesmo tempo, é preciso muito preparo, principalmente psicológico, para manter a calma quando você vê o outro time crescendo na partida, ainda mais tendo Tom Brady do outro lado, o rei das viradas.
Nos minutos finais do jogo, o relógio era aliado dos Falcons, então, porque não optar por mais jogadas corridas do que aéreas? Porque tanta pressa para realizar o snap? Talvez porque Matt Ryan, por ser um quarterback tão incrível e pelo jogo aéreo estar funcionando tão bem, acreditavam que esse era o caminho mais fácil para liquidar a partida.
Por que mudar a cobertura da defesa para zona, já que a marcação homem a homem estava funcionando tão bem? Talvez pelo fato de os jogadores estarem cansados, afinal a pressão em Tom Brady e a marcação em seus recebedores foi fenomenal durante quase toda a partida, e sem dúvidas isso exige muito dos atletas. Ou então, pelo fato de identificarem alguma mudança no jogo de New England, avaliaram que seria melhor mudar a marcação, novamente tentando fazer diferente.
Além disso, precisamos levar em consideração também que, querendo ou não, uma boa parte dos jogadores dos Patriots já passaram pela experiência de um Super Bowl, o que não era o caso dos Falcons. Talvez, quando os Patriots começaram a crescer na partida, isso tenha desestabilizado um pouco os jogadores, ou até mesmo, por acharem que o jogo já estava ganho (assim como a maioria de nós), inconscientemente “relaxaram” um pouco.
Enfim, são apenas especulações, tentativas de encontrar uma explicação para uma mudança tão drástica e repentina, das quais nunca teremos uma resposta, mas o fato é, os Patriots foram capazes de manter a tranquilidade, mesmo diante de um cenário tão adverso, e o time todo apareceu quando foi necessário. Nos vídeos em que mostram o que os jogadores falam entre si durante a partida, é possível perceber a confiança de toda a equipe em virar o placar, no início do segundo tempo.
Tom Brady e Bill Belichick (junto com Josh McDaniels e Matt Patricia), são sem dúvidas os grandes orquestradores desse resultado incrível, mas vale destacar o desempenho de alguns jogadores em momentos importantíssimos:
James White foi sem dúvidas peça fundamental da partida, com 14 recepções, 110 jardas e 3 touchdowns (2 terrestres). Sem dúvidas nenhuma, foi a melhor performance do running back durante toda a temporada.
Danny Amendola foi um pouco ofuscado durante toda a temporada por outros recebedores, mas foi peça importante na virada de New England, com 8 recepções para 78 jardas e 1 touchdown.
Trey Flowers: o Defensive End teve uma temporada ótima, e sem dúvidas essse foi seu melhor jogo. No Super Bowl, Flowers totalizou 2.5 sacks, e ele fez uma das principais jogadas que ajudaram a tirar os Falcons da zona de field goal, pressionando Ryan.
Dont’a Hightower: O linebacker foi responsável por uma das grandes jogadas da partida, sacando o quarterback Matt Ryan, fazendo com que ele perdesse a bola e fosse recuperada pelos Patriots.
Julian Edelman com essa recepção INSANA, desafiando a lei da gravidade!
Tom Brady quebrou vários recordes nessa partida, lançando para 466 jardas, completando 43 dos 62 passes tentados. Isso mesmo, 62 passes! Já que o jogo corrido não estava funcionando, o jeito foi tentar pelo ar! Com a ajuda da OL, no último quarto Brady teve mais tempo para conseguir fazer passes mais precisos.
O que se viu no domingo foi a história sendo feita, sendo você torcedor do New England Patriots ou não. E por falar nisso, eu fiquei bem triste ao ver como os não torcedores do New England se comportaram onde eu estava assistindo o jogo. A maneira de torcer para os Falcons era sempre atacando e ofendendo os Patriots e seus torcedores, e é bem triste ver que isso tem sido uma constante entre os brasileiros que acompanham a NFL. Não estou dizendo que torcedores do New England não fazem isso, porque fazem, e eu mesma já presenciei essa atitude tão desprezível.
Definitivamente, não consigo entender esse tipo de comportamento, e é realmente uma pena perceber que radicalismos, falta de educação e respeito pelo próximo, tão comuns no futebol da bola redonda aqui no Brasil, estão contaminando o futebol americano, e todos nós só temos a perder se isso continuar.
Em contrapartida, diversos amigos que torcem para outros times, me deram parabéns pela vitória e souberam reconhecer o grande feito da equipe, e aqui eu deixo também meus parabéns para os Falcons, que ao contrário do que dizem, não se entregaram, mas parafraseando Taylor Gabriel em resposta a Mohamed Sanu quando disse que os Patriots não tinham visto nada como aquilo e estavam nervosos, ele disse: “Mas é o Tom Brady”.
Sim, era o Tom Brady, sempre foi e enquanto for, será o suficiente para acreditar!