Na manhã desta quarta-feira (19/04), os torcedores da bola oval foram pegos de surpresa com a notícia do suicídio do ex-tight end dos Patriots, Aaron Hernandez, 27 anos, que cumpria prisão perpétua, considerado culpado da morte do Odin Llyod, seu amigo, e então namorado de sua cunhada no momento.
Hernandez foi draftado pelo New England Patriots em 2010, na 4ª rodada, e junto com Rob Gronkowski, eram uma dupla imbatível. Em suas 3 temporadas, Hernandez teve 175 recepções para 1.956 jardas, marcando 18 touchdowns, enquanto Gronkowski teve 185 recepções, 2.663 jardas, e 38 touchdowns. Dá para entender o motivo de serem uma das duplas mais temidas da NFL não é?
De “garoto de ouro” para trás das grades
Muito antes de ser notícia nacional como jogador profissional da NFL ou como criminoso, Hernandez era um atleta que se destacava em Bristol, Connecticut, que vinha de uma família descrita como uma dinastia dos esportes locais: “Eu não acho que havia alguma outra família que era mais conhecida em Bristol”, diz Bob Montgomery, que cobre esportes escolares para o Bristol Press.
“O jovem Hernandez era o “garoto de ouro”, jogando futebol, basquete, corrida, seguindo os passos de seu tio, do seu irmão mais velho e do seu pai – todos atletas muito conhecidos na comunidade. ”
O pai de Hernandez constantemente motivava o filho, fazendo com que treinasse por horas antes de sair com os amigos: “Eu via uma proximidade entre os dois que nunca tinha visto antes”, diz Montgomery sobre o relacionamento entre Hernandez e o pai.
Mas seu pai, o homem que o manteve focado por 16 anos, morreu de complicações de uma cirurgia de hérnia.
Hernandez falou sobre a morte do pai enquanto esteve no colégio: “Foi um choque. Todos eram próximos a ele, mas eu era o mais apegado. Eu ficava mais com ele do que com meus amigos. Quando isso aconteceu, com quem eu falo? Com quem eu saio? Foi difícil! ”
Depois da morte do pai, começou a sair com alguns garotos que eram conhecidos como criminosos na região, um grupo que incluía outras duas pessoas que estavam com Hernandez na noite em que Odin Lloyd foi assassinado.
A mãe de Hernandez, Terri, comentou sobre o impacto da morte de seu pai na vida dele: “Foi um processo difícil, e eu não sabia o que fazer por ele. Ele se rebelou. Foi muito, muito, muito difícil e ele tinha muita, muita, muita raiva. Ele não era mais o mesmo garoto, pelo jeito que falava comigo. O choque de ter perdido seu pai, havia muito ódio”.
Hernandez deixou a escola secundária no seu último ano em janeiro de 2007 para se juntar à Universidade da Flórida Gators, e os problemas começaram a acontecer.
No seu primeiro semestre, um relatório da polícia diz que ele participou de uma briga em um restaurante fora do campus da faculdade.
No outono seguinte, houve um tiroteio em um clube próximo. Relatórios policiais associaram Hernandez e outras dezenas de jovens ao ocorrido. O ex-jogador foi uma das mais de 20 pessoas entrevistadas pela polícia, e ele foi o único que não fez uma declaração depois de exigir o seu direito a um advogado. O caso continua aberto e ninguém foi culpado.
Na época, a mãe do jogador disse ao jornal Orlando Sentinel que seu filho estava no clube, mas não viu nada.
Hernandez se envolveu em outros episódios menores, principalmente com relação ao consumo de maconha. Tentando mostrar que havia superado essa sua fase, escreveu uma carta para o New England Patriots, dizendo o seguinte:
“Se vocês me draftarem, eu voluntariamente me submeterei a um teste de drogas bissemanal, durante meu período de rookie. Além disso, vou atrelar qualquer valor garantido do meu contrato de 2010 a esses testes e reembolsar a equipe caso eu falhe em algum deles. ”
Antes do draft, era esperado que Hernandez fosse a primeira ou segunda escolha. Ele foi escolhido apenas na quarta, devido a esse histórico. Porém, no final de sua segunda temporada, os Patriots lhe ofereceram um contrato de 5 anos, por US$40 milhões de dólares. Um mês antes de assinar o contrato, ele estava em um club em Boston. Naquela mesma noite, dois homens do clube foram encontrados mortos.
Duplo homicídio
Investigadores alegam que Hernandez atirou e matou Daniel Abreu e Safiro Furtado em 16 de julho de 2012, devido a uma desavença em uma casa noturna, pois um deles havia jogado bebida no jogador, o que o teria irritado.
Segundo depoimento dado por Alexander Bradley (foto), amigo do jogador e que alegou estar com ele no momento do crime, os dois concordaram em não contar a ninguém sobre os assassinatos, porém Hernandez começou a ficar paranoico, achando que Alexander contaria a alguém, então tentou matá-lo com um tiro entre os olhos, o que o fez perder uma das visões, mas conseguiu sobreviver.
Devido ao histórico complicado de Alexander (drogas, homicídios, prisões), seu testemunho foi desconsiderado, e a falta de provas concretas fizeram com que Hernandez tenha sido absolvido desse crime.
O assassinato de Odin Llyod
Nas primeiras horas do dia 17 de junho de 2013, Lloyd foi assassinado com sete tiros. O corpo do jogador de futebol semi-profissional foi encontrado na tarde seguinte em um parque industrial em North Atteboro, Massachusetts.
Lloyd, que estava namorando a irmã da noiva de Hernandez, tinha saído com ele logo antes de sua morte, de acordo com alguns amigos.
Promotores disseram que Lloyd foi visto por último com Hernandez e mais duas pessoas, Carlos Ortiz e Ernest Wallace, por volta das 2h30, em um Nissan Altima alugado.
Câmeras de segurança no parque industrial mostraram o Altima indo em direção a uma área isolada, às 3h22. Ao mesmo tempo, estranhas mensagens de textos do telefone de Lloyd foram mandadas para sua irmã, dizendo que ele estava com “NFL”, e adicionava “para que você saiba”.
Entre às 3h23 e 3h27, trabalhadores da região disseram ter ouvido disparos. Às 3h29, uma câmera mostrou um Altina entrando no caminho da casa de Hernandez, a menos de 1km dali. Três pessoas saíram do carro, e Lloyd não era uma delas.
Nove dias depois, Hernandez foi preso e acusado de assassinato de primeiro-grau, e outras acusação relativas a posse de arma. Ele se declarou inocente.
Motivo do crime
Os reais motivos talvez nunca saberemos, mas o que se conta é que, um dia, Hernandez estava muito bêbado e foi socorrido por Lloyd. Como estava embriagado, acabou falando coisas que não deveria, inclusive sobre o duplo homicídio que supostamente havia cometido tempos atrás. Da mesma maneira que ficou paranoico com seu amigo Alexander, Aaron começou a achar que Lloyd não seria capaz de manter o segredo, e por esse motivo resolveu matá-lo.
Por mais de um ano antes do assassinato de Lloyd, um amigo da família disse a revista Rolling Stones que Hernandez estava viciado em “angel dust” ("pó de anjo", expressão inglesa que se refere à droga alucinógena fenciclidina, também conhecida como PCP) e estava ficando cada vez mais paranoico, e até carregava um rifle em sua mochila de academia.
Pelo que dizem, Hernandez estava tentando cortar relações com grupos de criminosos de sua juventude. Inclusive ele até disse ao técnico Bill Belichick que estava preocupado que seus amigos tentassem matá-lo.
Vida na prisão
Hernandez foi levado sob custódia em 26 de junho de 2013, com acusações referentes ao caso de Lloyd. Os Patriots dispensaram o jogador horas após a prisão, e anunciaram que todos os torcedores que tivessem a camisa de Hernandez, poderiam trocá-la gratuitamente pela de outro jogador.
Por mais de 18 meses, ele ficou em Bristol County House of Corrections, e foi condenado pelo assassinato de Lloyd em 15 de abril de 2015.
Apenas alguns dias após sua condenação, o xerife Thomas Hodgson, de Bristol County disse a Associated Press que Hernandez sabia usar seu charme para manipular oficiais na prisão: “Ele fazia de tudo para conseguir sanduíche extra”, Hodgson disse. “Ele tentava convencer os oficiais a lhe dar mais do que ele deveria receber. ”, mesmo que eles tenham sido orientados a tratá-lo como qualquer outro preso.
Enquanto esteve nesse presídio, ele se envolveu em uma briga com outro preso e ameaçou matar um segurança e sua família, disse Hodgson.
Depois que foi condenado, Hernandez foi transferido para uma cela única, em Souza-Baranowski Correctional Center (foto), uma prisão de segurança máxima em Shirley, a uma hora de Boston.
Apenas um mês depois de sua sentença, ele se envolveu em outra briga, e foi mandado para uma parte separada da prisão, em uma cela de 2x3m. Hodgson diz que ele ocupava seu tempo lendo a Bíblia e um outro livro que lhe sugeriu “Terças com Morrie.”
Em uma de suas conversas com Aaron, Hodgson disse que falaram sobre seu pai, e o oficial pôde perceber que claramente o pai de Aaron era o responsável por mantê-lo na linha, em equilíbrio: “Quando você perde essa pessoa e não há ninguém para ajudá-lo no processo de uma maneira saudável, aos 16 anos você irá atrás de qualquer um que seja mais velho para lidar com isso”, diz Hodgson.
Suicídio
Aaron foi encontrado morto em sua cela, e tudo indica que foi suicídio: enforcou-se no lençol amarrado a janela e tentou obstruir a abertura da porta com alguns objetos.
Apesar de não ter deixado nenhum tipo de carta, ao que tudo indica, Hernandez escreveu algo em seu próprio corpo com um marcador antes de sua morte. De acordo com WBZ-TV, quando Hernandez foi encontrado, tinha o versículo João 3:16 da Bíblia escrito em sua testa: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
Hernandez tinha marcas escritas com um marcador vermelho, em ambas as mãos e pés.
Além disso, as autoridades acreditam que Aaron havia consumido maconha sintética, conhecida como K2, horas antes de morrer. Pessoas que usam K2 demonstram diversos efeitos colaterais, incluindo agir erraticamente.
De acordo com o ex-agente e seu advogado, Hernandez não se matou, ele não era do tipo suicida.
Hernandez deixou para trás outra vítima, sua filha de 4 anos. Apenas cinco dias antes de sua morte, Hernandez foi absolvido do duplo assassinato e outras acusações no caso. Especulava-se que isso poderia ajudá-lo no recurso de seu processo do caso de Lloyd, pois encobrir antigos crime havia sido um dos motivos considerados no assassinato de Lloyd.
Investigações serão feitas para apurar se foi suicídio ou homicídio dentro da prisão. De qualquer maneira, Aaron já havia perdido a sua vida no momento em que fez tantas escolhas erradas, e infelizmente o esporte perdeu um talento nato e um jogador promissor.
Vi um filme que abordava o assunto dos danos cerebrais em jogadores de futebol americano. Não sou cientista, mas a cientista que examinou o cérebro de Aaron disse e demonstrou a diferença entre um cérebro normal de um homem de 27 anos e o de Aaron. No seriado da Netflix, um outro jogador profissional também havia cometido suicidio. Não creio em coincidências. O esporte, assim como o cinema, a moda e a música transforma os talentos em produtos, dos quais se deve “tirar o máximo proveito”, pois o show tem que continuar e o dinheiro tem que continuar a girar. Antes de serem atletas, atores, músicos e modelos, são seres humanos. E o que vemos é que nem todos os seres humanos conseguem administrar o fato de serem tratados como máquina de fazer dinheiro. Tudo pode ter começado a dar errado com a morte do pai, seguido do uso de drogas e de pain killers? Sim. Mas obviamente, havia algo mais. E poderia ser que os danos cerebrais o tornasse impulsivo, zangado e sem auto-controle. Lamentável para todos a sua volta. Especialmente para a filha…