O quarterback Cam Newton será poupado por tempo indeterminado pelo Carolina Panthers, devido a uma lesão de Lisfranc no pé esquerdo. O jogador sofreu um leve entorse na primeira semana da pré-temporada, que supostamente havia se recuperado. Após jogar as duas primeiras semanas da temporada regular, voltou a agravar a lesão no jogo contra o Tampa Bay Buccaneers.
Nesses dois jogos ficou evidente a limitação do jogador, principalmente em corridas, que é uma característica importante do quarterback e muito usada na equipe. Com isso, Cam ficou de fora desde a semana 3 e deu lugar ao segundanista Kyle Allen.
Mas afinal, o que é essa lesão de Lisfranc? Será que essa lesão pode acabar com a temporada de Cam Newton? Vamos a alguns esclarecimentos.
Iniciando com o básico: a ANATOMIA. Acho que a forma mais fácil de compreender é vendo a imagem abaixo:
O complexo articular de Lisfranc consiste nas cinco articulações tarsometatársicas que ligam o antepé e o médio pé. Existem vários ligamentos neste complexo e um deles é o próprio ligamento de Lisfranc. A lesão é justamente a fratura-luxação (deslocamento) dessa articulação.
Com isso a gravidade e a recuperação desta lesão varia muito. Algumas lesões só causam dor leve e inchaço, outras causam dor de forte intensidade, deformidade e hematoma – também, em alguns casos parestesia (sensação de dormência e formigamento) e incapacidade de suportar o peso. Realmente pode ser uma lesão preocupante caso esse deslocamento seja maior que 2mm (isso mesmo, “apenas” 2 milímetros) e para descobrir isso é realizado exames de imagem: radiografia e tomografia.
O mecanismo de trauma é justamente uma sobrecarga rodando o pé com os dedos fletidos (dobrados) no chão. Com isso pode quebrar um ou mais ossos ou deslocá-los, o que pode também romper esse complexo ligamentar. Por isso muitas vezes é diagnosticado de forma errada como entorse, exatamente como foi com Cam Newton.
Assim, passamos para o tópico de maior interesse do fã do futebol americano: o TRATAMENTO da lesão.
Uma lesão de Lisfranc normalmente envolve danos aos ligamentos do meio do pé, e pode levar de seis a oito semanas com o pé imobilizado com carga sendo liberada aos poucos, sendo que neste período é realizada fisioterapia. Evidente que a equipe está fazendo o possível com a esperança de evitar a cirurgia.
No geral o tratamento cirúrgico é RAFI (redução aberta com fixação interna), que reduz os fragmentos e fixa a articulação. Utilizam-se fios metálicos, parafusos e placas, que em alguns casos são retirados. Após a cirurgia o pé é imobilizado por aproximadamente 8 semanas e retorno é gradual conforme evolução com a reabilitação.
Segundo a revista Lower Extremity Review, 28 jogadores da NFL sofreram lesões em Lisfranc entre 2000 e 2010. O tempo médio de retorno foi de 11,1 meses após a lesão e apenas três jogadores retornaram em menos de 3 meses e dois nunca voltaram a jogar. Entre os atletas da NFL que sofreram lesão de Lisfranc estão: Matt Schaub, Le’Veon Bell, Jake Locker, Santonio Holmes e Dwight Freeney.
Realmente não é uma lesão muito simples e requer muitos cuidados para evitar complicações que possam piorar ainda mais a recuperação completa do jogador.
Resta esperar e torcer!
Por Nágela Freitas. Fisioterapeuta – Especialista em Ortopedia e Traumatologia (UNIFESP)